OS
PARTIDOS POLITICOS NOS TEMPOS DE JESUS
Thiago
Batista de Abreu
Resumo
O presente artigo versa
sobre a origem e características dos grupos judaicos do 1º século, e suas
influências na sociedade da época. O autor demonstra que a origem de tais
grupos se dá em um contexto de reação contra o misticismo e ameaça da
existência do judaísmo e que ora tem motivações políticas, ora religiosas, ora
filosóficas. Ainda, se por um lado a sinagoga é criada como instrumento de
preservação do judaísmo, por outro é uma das responsáveis pela facilitação do
surgimento dos diversos grupos judaicos. Dessa forma, as sinagogas eram
utilizadas como plataforma nas quais os grupos propagavam suas opiniões ao
discordarem dos dirigentes do Templo. Por último, o autor demonstra que os
grupos judaicos do 1º século mudaram a essência da fé judaica, e por isso, se
por um lado surgiram com o intuito de preservar a fé judaica, por outro lado
foram exatamente os responsáveis por fazer com que a fé judaica original se
tornasse diferente desse judaísmo. Por isso, modificaram aquilo que tanto
desejavam preservar.
Palavras-chave:
Judaísmo; 1º Século; Fariseus, Saduceus; Essênios; Herodianos; Zelotes; Qumran;
Templo, Sinagoga.
Introdução
As hostilidades contra
o cristianismo primitivo eram comuns, especialmente por parte da comunidade
judaica do primeiro século. Inicialmente por parte dos fariseus, que eram um
partido religioso, e dos saduceus, que eram um partido político-religioso.
Dessa forma, fica claro a existência de grupos judaicos distintos, entre os
quais se vê a representação tanto da opinião e posicionamento Escriturístico de
seus integrantes bem como de suas ideologias filosófico-políticas.
Quando observamos o
aspecto filosófico do judaísmo, encontramos três grupos, como fez Josefo –
Fariseus, Saduceus e Essênios. Porém, quando observamos o aspecto étnico
encontramos os herodianos que possuíam um laço consanguíneo com Herodes, o
Grande. Ainda, haviam os zelotes que eram um grupo político do século I que
buscava promover uma rebelião contra o Império Romano, com o intuito de
libertar Israel pela força e que termina por promover a Primeira Guerra
Judaico-Romana (66-70).
Diante do quadro
apresentado é importante se estudar cada um desses grupos de forma separada, para
depois se montar o quadro político-religioso geral da nação. Por último, buscar
aprender com a história para que não se cometam os mesmos erros outra vez.
1.
Os Saduceus
A derivação e o
possível significado do nome são muito debatidos. A ideia mais provável é a de
que o nome se referia a qualquer um que simpatizasse com os zadoquitas,
descendente sacerdotes de zadoque, o sumo sacerdote nos dias de Davi e Salomão.
(1º Reis 4.4; 1º Crô 29.22).
Os saduceus compunham
uma das mais importantes e influentes seitas judaicas, muitas vezes em oposição
tanto politica quanto teológica com os fariseus. Esta seita era amplamente
constituída pelos elementos mais ricos da população, em contraste com os mais
pobres e mais populares fariseus. Entre seus componentes se encontravam os
sacerdotes mais poderosos, mercadores prósperos e a classe aristocrática da
sociedade. Eles aderiam apenas a lei mosaica (fundamentalistas originais),
rejeitando os profetas e a lei oral como espúrios, não criam na vinda do
Messias, nem na ressurreição dos mortos, nem em anjos ou demônios. Os saduceus
aceitavam como canônicos os primeiros cinco livros ou pentateuco, ainda que,
provavelmente, houvessem divergências pessoais, entre os saduceus, a cerca
desse particular. Seu partido manteve o controle politico por muito tempo,
enquanto um ramo da casta de sacerdotes controlou o ofício de sumo sacerdotes
por vários séculos. No novo testamento encontramos várias referências as
disputas deles com Jesus (Mar. 12.18; Mat. 16.1,6) e até mesmo a estranha com
os fariseus para livrar-se de Jesus. Eles também se opuseram fortemente a
igreja primitiva (Atos 4.1; 5.17).
No Novo Testamento
penas os evangelhos sinópticos e o livro de atos fazem referencias aos saduceus
: Mat. 3.7; 16.1, 6, 11, 12; 22.23; Mar. 12.18; Atos 4.1; 5.17; 23.6-8. São
sempre relatórios negativos sobre esta seita, seja por sua oposição e
perseguição a Jesus, seja por sua cosmo visão materialista. Eles também se
opunham aos apóstolos, efetuando perseguições (Atos 4.1 ss.). A referência final
aos saduceus ocorre em Atos 23.6 ss. , por ocasião do julgamento de Paulo pelo
sinédrio. Nesse julgamento Paulo conseguiu que os fariseus e saduceus entrassem
em choque e debate, pondo em fim à reunião.
Com a queda de
Jerusalém em 70 d.C., quando os exércitos romanos destruíram aquela e muitas
outras cidades em Judá, os saduceus desapareceram como partido politico e
religioso.
2.
Herodianos
Eram do partido do Rei
Herodes e talvez, altos funcionários de sua casa. Eram conservadores e
favoráveis à presença dos romanos. Os Herodianos eram os apoiadores dos
Herodes, instituída por motivo de interesses nacionalistas, a fim de impedir o
governo romano direto, que era desprezado quase universalmente pelos judeus.
Ordinariamente os herodianos reputavam (ou assim diziam) o sucessor dos
herodescomo se fora o Messias. Procuravam conservar a politica judaica (isso em
acordo com os fariseus). Não eram originariamente ortodoxos em suas crenças
religiosas (e nisso concordavam com os saduceus). Os herodianos são mencionados
como inimigos de Jesus, por uma vez, na Galiléia; e por mais uma vez em
Jerusalém. (Mar. 3:6; 12:13 e Mat. 22:16). Uniam-se aos fariseus no tocante a
questão do pagamento de impostos a um governo estrangeiro, pagamento esse que,
segundo a mentalidade judaica era consideradoilegal. Eram opositores fortes dos
zelotes e perseguiam “agitadores políticos” na Galiléia. Foram os responsáveis
pelo assassinato de João Batista.
A identificação desse
partido com o partido religioso que, na literatura rabínica, é chamado de os
Boethusianos, isto é, aderentes da família de Boethus, cuja a filha, mariamme,
foi uma das esposas de Herodes, o Grande e cujos filhos foram criados por ele
visando o sumo sacerdócio, atualmente não é bem aceita entre os eruditos.
Os herodianos, tanto
quanto os fariseus, estariam ansiosos por se livrarem de Jesus, embora por
motivos diferentes. Para eles, ele era um revolucionário politico em potencial,
que queria perturbar seus planos de restaurar a monarquia judaica. Os falsos
lideres não mais buscavam falsas acusações, mas agora planejavam a morte de
Jesus, por meios legais ou ilegais. A opinião antiga de que os herodianos não
queriam pagar impostos a Roma, ou se opunham a Jesus porque pensavam que Herodes,
o Grande, fosse o Messias, provavelmente é incorreta. Eram simplesmente
políticos, que que preferiam o governo romano indireto, através da dinastia
herodiana, direto estando ansiosos por
assumir algum poder dessa maneira. Jesus, pois, era obviamente perigoso para os
planos deles.
3.
Fariseus
O nome “fariseu”, no
grego FARISAIOS, VEM, por sua vez, do adjetivo aramaico que significa
“separado”,“segregado”, “dividido”.
Talvez esse nome lhes fora dado pelos inimigos, em virtude do fariseu viver
separado do povo temendo a imundície. Eles mesmos, gostavam de chamar-se
“haberim”= companheiros, ou “quedosim” = santos.
Os fariseus formavam o
partido do povo, tendo grande influência junto a ele. Era composto de trabalhadores
rurais, artesãos e pequenos comerciantes. Gostavam do dinheiro embora
afirmassem que a parte espiritual era mais importante. Esta minoria levantou-se
no seio da comunidade de Israel, composta de homens do Hasidhim, poderosos
guardiões da lei de Moises. Foi a frente de resistência ao helenismo pagão e
idólatra. Este grupinho pertence aos “escribas”, homens que copiavam, e por
tanto conheciam a “Lei”. Reconhecidos com o passar dos tempos como “separados”,
os “puritanos”, os “zelotes”. Evoluíram até chegarem ao fariseu tradicionalista
e exclusivista do Novo Testamento.
Nas sinagogas gostavam
de ocupar os primeiros lugares e quando alguém não concordava com a doutrina
deles, o expulsavam.
Foram os fariseus e os
Doutores da Lei (escribas) que começaram a organizar o povo depois que voltaram
do cativeiro da Babilônia. O templo tinha sido destruído e o grupo que voltava
do cativeiro estava muito empobrecido.
Quando chegaram a
Palestina encontraram novas ideias e costumes trazidos pelos gregos e romanos
(exemplo: moços casavam com moças de outra nação). Combateram esses costumes
como forma de unir o povo, em torno da observância mais rigorosa da Lei de
Moisés.
Com o tempo viraram
fanáticos. Insistiam muito em coisas exteriores, visíveis (exemplo: a
observância do Sábado, do jejum, da esmola, circuncisão, etc.). faziam tudo
isso para mostrar que eram judeus observantes da lei de Moisés e de outras
prescrições impostas pela tradição. Eram rígidos em suas posições. Oprimiam a
quem não seguisse seu fanatismo.
Eram zelosos pela lei
de Moisés, mas valorizavam sobretudo os ritos e tradições religiosas. Desta
forma, conforme se constata em seus embates com Jesus registrados nos
evangelhos, o valor da tradição se sobrepunha ao sentido da Lei de Moisés. Criam
na vinda do Messias, na ressurreição dos mortos, bem como em anjos e demônios.
As denuncias de Jesus
contra os exageros dos fariseus encontraram-se em Mateus 23:13-30 e Marcos 7:9.
Naturalmente o Novo Testamento também elogia a vários fariseus, como Nicodemos
(João 3:1), que com retidão em defesa de jesusu (João 7:50), mesmo depois que
os próprios discípulos haviam fugido (João 19:50). José de Arimatéia também
fora fariseu (Mar. 15:43), sendo altamente elogiado no Novo Testamento. Outros
avisaram a Jesus de que queriam tirar-lhe a vida (Luc. 13:31), e alguns
fariseus mostraram-se hospitaleiros para com ele (Luc. 7:36; 11:37; 14:1),
Paulo havia sido fariseu antes de sua conversão (Fil. 3:5), não se tendo
envergonhado de poder repetir: Eu sou fariseu, filho de fariseu.... (Atos
23:6).
A luta mais terrível do
filho de Deus foi com os fariseus. Grandes batalhas foram travadas. De modo
principal, foram os fariseus que preparam o terreno para Jesus ser crucificado.
E o fizeram torcendo a verdadeira Lei de Moisés e baseando-se nos preceitos e
doutrinas forjados pelos homens.
4.
Zelotes
Em grego, zelotai =
zelotas ou fanáticos, no hebraico qana, “ser zelotes”. Este partido revolucionário teve início no
século I, sob a influência de Judas de Gamala, o Galileu. Representavam a ala
mais radical dos fariseus.
Os dirigentes
conservavam todo o entusiasmo dos movimentos de libertação anteriores, o mesmo
fanatismo pela lei escrita e a tradição oral mais rigorosa. Eram excluídos
radicalmente desse movimento os que colaborassem com o Império Romano. Eram os
nacionalistas mais radicais entre os judeus.
Aspiravam pela
instauração do Reino de Deus, que para eles se resumia numa libertação da
dominação estrangeira. O Messias seria um Rei Ungido por Javé, que instauraria
seu reino definitivo. Acreditavam que suas instituições (monarquias, templo,
sacerdócio e sinagoga) eram válidas e permanentes. Era preciso apenas
purificá-las.
Sonhavam com a
reorganização da propriedade segundo a vontade de Deus, como redistribuição dos
latifúndios, libertação dos escravos e supressão de dívidas. Para eles, a vinda
do reino dependia da ação revolucionária. Não aceitavam a passividade. Se
organizavam clandestinamente em regiões montanhosas e se preparavam para a luta
armada contra os romanos.
Não pagavam impostos a
Roma. Eram contrários ao recenseamento. Mobilizaram o povo com promessas de
libertação. Conseguiram adesões de muitos rabinos, sacerdotes e da massa
popular. Recrutavam militares entre os jovens camponeses empobrecidos pelos
romanos. Praticavam os assassinatos, sequestros de personagens importantes,
roubavam os ricos.
Eram chamados: zelotes,
ladrões ou bandidos (criminosos políticos), sicários (terroristas), galileus
(por atuarem na Galiléia). Entre os discípulos de Jesus havia zelotes, Simão, o
zelote (Mc 3, 18).
Representavam o partido
de extrema esquerda dos fariseus. Estavam mais interessados na política do que
na religião, buscando a independência e autonomia da nação mais do que qualquer
outra coisa. Segundo Josefo (Antiguidades 18:1), seu fundador foi Judas de
Gamala (Judas, o galileu - At 5:37), que incitou os judeus a rebelar-se contra
o império quando do censo para fins tributários em 6 a.C. (feito por Quirino,
governador da Síria). Foram eles, até certo ponto, que precipitaram a guerra
civil de 66 d.C., que resultou na destruição de Jerusalém. Eram fanáticos e sua
facção mais extrema eram os sicários. O NT os menciona em Lc 6.15; At 1.13.
5.
Os Essênios
Não são mencionados no
NT. Sua existência ficou comprovada com a descoberta em 1947 dos Manuscritos do
Mar Morto. O nome “essênio” vem de uma palavra hebraica que significa “pio”,
“santo”. Praticavam um ascetismo e isolamento rigorosos, e se dedicavam a
reproduzir os escritos do Velho Testamento e a fazer seus próprios comentários
dos mesmos. Sua origem é do século II
antes de Cristo. Separaram-se dos fariseus na época dos Macabeus. Em 1947,
ficamos sabendo de sua existência, através da descoberta dos livros e dos
pergaminhos do Antigo Testamento, nas cavernas de Qumram. Os essênios
conservaram vários escritos extra bíblicos. Assemelhavam-se a uma comunidade de
monges com disciplina rígida. Tinham os seus bens em comum, não usavam armas.
Praticavam a pobreza, o celibato e a obediência a um superior. Estudavam as Escrituras.
Eram fiéis à Lei de
Moisés. Não frequentavam o Templo. Fervorosos, separam-se dos “maus”, dos
impuros e dos pagãos. Sua espiritualidade era apocalíptica. Esperavam a
intervenção dos “exércitos celestes” para a volta da teocracia (governo de
acordo com a ordem religiosa).
Deixaram Jerusalém e
foram morar em grutas. Eram camponeses e viviam do produto de seu trabalho.
Tinham pouca influência sobre o povo.
Foram destruídos pelos
romanos no ano de 68 depois de Cristo. Talvez João Batista tenha pertencido a
esse grupo, pelas características de sua pregação. Eles também pregavam a
conversão (Mc 1, 14-15).
Jesus não pertenceu a
nenhum partido: nem da classe dominante, nem da oposição. A proposta de Jesus é
o Reino de Deus. O poder que ele deseja é o poder não para dominar, sim para
servir.
A liderança não foi
populista. Ele foi ao povo por que o amou, e sendo pobre, sentiu na carne a
mesma opressão do povo. A política de Jesus foi em favor dos oprimidos. Os
cristãos não devem “fazer média” quando se trata dos injustiçados. Devem tomar
posição!
Os essênios se
consideravam os únicos e verdadeiros sadoquitas, continuadores da ordem
sacerdotal de Sadoque, e desta forma rejeitavam a classe religiosa responsável
pelo culto no Templo.
A tradição cristã
reputa que João Batista era essênio, não só pela semelhança entre a doutrina de
justiça social desta seita e seus ensinamentos, bem como pelos costumes
praticados por João, conforme os evangelhos. Há semelhanças de fato, mas
dificilmente se pode aceitar isto como certo.
Os essênios eram
estudiosos dos profetas, bem como acreditavam na vinda do Messias e na
proximidade do fim dos tempos, quando seria executado o julgamento de Deus
sobre os homens. Viviam uma vida de rigores, privilegiando o bem comum ao invés
da posse privada de bens.
Não habitavam, porém
somente reclusos a comunidades afastadas, havendo essênios que viviam nas
cidades, procurando, contudo exercer um modo de vida austero. Eram desta forma
uma alternativa mais próxima à Lei de Moisés, o que fez com que muitos
hassidins adotassem a seita como prática religiosa.
Entre as três
principais correntes religiosas, pode-se dizer que os essênios eram ao mesmo
tempo a mais respeitada, pela sinceridade de seu comportamento, e a segunda
maior em termos numéricos.
Conclusão
O que vemos, então, é
um quadro histórico pintado com grupos judeus divididos por pensamentos e
ideologias distintas, no exato momento em que surge Jesus Cristo. Porém, para
os fariseus é apresentada a mensagem de reprovação quanto a sua hipocrisia.
Para os saduceus é apresentada a mensagem de que o amor ao mundo é inimizade
contra Deus. Para os essênios é apresentada a mensagem de que a luz deve
brilhar em meio as trevas. Para os herodianos é apresentada a mensagem de que
aquele que amar a sua vida esse perdê-la-á. Para os zelotes é apresentada a
mensagem de que aquele que vive pela espada morre por ela.
Posteriormente surge
outro grupo. Um grupo formado pela união de judeus e gentios. Povos de todas as
raças, tribos, línguas e nações. Povos que foram redimidos pelo Messias e se
tornaram seus seguidores em todas as partes do globo, através dos séculos. Esse
grupo perdura até os dias de hoje, e o seu fundador, Jesus Cristo, disse:
“sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não
prevalecerão contra ela” (Mt 16:18).
Referencias
CHAMPLIM,
Russel Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e filosofia,Volume 1, 2 e 6. 11ª
edição 2013, editora Hagnos.
DOUGLAS,
J.D., O Novo Dicionário da Bíblia, Ed. Vida Nova, 2 vols., 1.984.
RELIGIÕES:osgruposjudaicosna
época decristo. Disponível em:<http://www.napec.org>Acesso
em: 13 de outubro de 2014.
Partidosnotempodejesus.
Disponível em: <http://afeexplicada.wordpress.com>
Acesso em: 12 de Outubro de 2014.