terça-feira, 4 de novembro de 2014

ORAÇÃO NA VIDA DE JESUS Marcos Mizael Gusmão de Lima



ORAÇÃO NA VIDA DE JESUS

Marcos Mizael Gusmão de Lima

Resumo: Este artigo tem por finalidade explorar um pouco da Oração na Vida de Jesus. Nos escritos sagrados, observamos Jesus como àquele que ora várias vezes ao Pai, o mestre que nos ensina a Orar, a estabelecer esta comunicação com o Deus Pai, que está no Céu. Mesmo sendo o Deus em forma de homem, Ele nos traz a lição, o conceito e o princípio da Oração, vencendo paradigmas e culturas distorcidas, daquilo que realmente deve ser a essência deste princípio. Através da vida e ministério de Jesus, foi revelado para nós o grande ponto desta questão e veremos a seguir alguns destes aspectos neste contexto da vida Cristã.

Palavras-chave: Oração, Vida de Jesus, Ministério, Deus Pai.

Introdução

A palavra Oração no Grego não bíblico proseuchomai, que significa “Invocar a divindade”, ou “prometer”. No AT utiliza-se com o significado de “pedir”, “abençoar”, “dar graças”, “Invocar” e “suplicar” proskynein. Este termo indica este canal entre o ser humano e a divindade, aquele que tem Todo o Poder. Esta relação no contexto da vida de Jesus mostra a relação constante que o Filho tem com o Pai, estabelecendo esta relação entre a Humanidade e a Divindade.
Dessa forma, veremos alguns aspectos de extrema importância da Oração na vida de Jesus Cristo e no contexto sócio-cultural daquela época, trazendo o grande exemplo de Jesus para a nossa realidade atual. “E, quando orarem, não fiquem sempre repetindo a mesma coisa, como fazem os pagãos. Eles pensam que por muito falarem serão ouvidos. Não sejam iguais a eles, porque o seu Pai sabe do que vocês precisam, antes mesmo de o pedirem”. 
(Mateus 6:7-8). Através de vários textos sagrados vamos explorar a grande relevância nos ensinamentos de Jesus sobre a oração e como o Messias viveu em sua época demonstrando este fundamento Cristão. Além de buscar alguns fundamentos da oração na vida do Cristão, para uma exposição sucinta e coesa das verdades Bíblicas.

Desenvolvimento

Talvez um grande paradoxo entre alguns eruditos e historiadores seja: Jesus é Deus em forma de homem, então para que ou porque Ele necessitava orar? Qual o sentido desta afirmação e o motivo do qual este ensinamento foi tão relevante na revelação de Deus aos homens, tanto no AT como NT.
O ministério de Jesus inicia-se na Galiléia, aos 30 anos de idade sendo Batizado por João Batista (aquele que veio preparar o caminho para o messias), no Jordão (Mt 3: 13-17;  Mc 1:9-11; Lc 3: 21-22; Jo 1:32-34). Em seguida Jesus foi levado ao deserto para ser tentado e Jejuou 40 dias e 40 noites. Esta passagem para alguns estudiosos pode ser a grande representação da figura humana em analogia ao Éden, onde o ser humano foi tentado pela serpente e sucumbiu em pecado. Jesus, foi perfeitamente divino e perfeitamente humano, provou que podemos vencer as tentações do Diabo e viver Isento de Pecado, através da sua Graça. A partir daí observamos ainda no início de seu ministério a preocupação com a oração; no evangelho de Mateus no Cap. 6, versículos 5 a 15. Jesus destaca a comunicação com Deus um princípio de humildade, em pleno contraste com o estilo dos fariseus, escribas, publicanos e gentios que viviam em uma religiosidade de aparência, formal e sem vida. Neste termo, Ele também adverte sobre as “vãs repetições”, pois naquela época os gentios, ou pagãos, tentavam sensibilizar seus deuses desta maneira, repetindo as preces, rezas e orações. Por este contexto, verificamos que Jesus estabelece um modelo de oração, demonstrando que somos filhos de Deus e devemos orar a Ele como quem estabelece uma conversa.  Neste modelo apresentado por Cristo, Chamado de “Oração do Pai Nosso”, observamos algumas características, tais como:
·         A proximidade com Deus, Ele é nosso Pai e somos seus filhos, Ele é Santo e seu Nome é Santo.
·         A humildade; a vontade não pertence a nós, mas sim a Ele, devemos buscar a Sua vontade em detrimento da nossa.
·         A benção, Deus nos abençoado e é supridor de nossas necessidades.
·         O perdão; somos pecadores e falhos, devemos pedir perdão constantemente pelas nossas fraquezas e ofensas. Deste mesmo modo a exortação a perdoamos uns aos outros, inclusive aqueles que fizeram alguma coisa contra nós, pois desta maneira o Pai também nos perdoará.
·         A proteção; devemos pedir o livramento das tentações e obras do maligno.
·         O Reino; O reino é pertencente a Deus e não aos homens, assim como o Poder também. Nisto podemos observar, a preocupação de enfatizar que o único Deus é que é detentor do verdadeiro Poder e a Ele que se deve Honrar, isto se contrapondo a realidade do Império romano e seus Imperadores que se intitulavam deuses e também contra os Judeus fariseus, que andavam com o “Rei na barriga”, ou seja, se achavam superiores e detentores do Poder.
No evangelho de Marcos no cap. 1: 35; Jesus após ter curado e expulsado demônios de muitos naquela tarde, de madrugada Ele se retira para o deserto para orar. Com muita notoriedade o evangelista Marcos, mostra que mesmo Jesus o Messias o Filho de Deus, necessitava estabelecer este canal com o Pai, através da oração, pois ela nos fortalece, só através da oração o Pai concede Glória e Misericórdia, só assim teríamos este acesso ao Poder de Deus. Podemos observar nas escrituras que em vários momentos que antecederam alguns acontecimentos, Jesus orou; no texto de Lucas 6: 12, antes da escolha dos doze apóstolos, Jesus se retirou para o monte para orar, também é interessante que o evangelista descreve que Ele passou a noite toda em Oração a Deus. Este não foi o único relato que antecede a Oração de Jesus em meio há algum acontecimento de deveras importância. A bíblia relata nos livros de (Mt 17: 1-13; Mc 9: 2-13; Lc 9:29-35) A transfiguração de Jesus, afirmando que enquanto Jesus orava a sua aparência foi transformada, onde suas vestes resplandeceram como o brilho do relâmpago. Em seqüência temos o relato da aparição de Elias e Moisés, um acontecimento que marcou a vida dos discípulos.
No monte das oliveiras, momento que antecede sua prisão, Jesus se retira para Orar e os discípulos o seguem, mas Jesus lhes exorta: “Orai para que não venhais cair em tentação”. Observamos que mais uma vez Jesus deixa claro que para vencermos as tentações e obras malignas devemos Orar. Em continuidade o texto no diz que Jesus orou tão intensamente que seu suor se torna em gotas de sangue. Este é um grande exemplo de Oração intensa, colocando todas as nossas necessidades e aflições diante de Deus. Outro fator bastante relevante, é que Jesus ensina, é a perseverança na oração; segundo Craig L. Blomberg, Jesus e os Evangelhos: Uma Introdução aos 4 evangelhos, (Sociedade Religiosa Edição Vida Nova) 1ª edição 2009. Destaca-se neste contexto a pequena parábola do amigo da meia-noite. A imagem e a linguagem da parábola ensinam não tanto a persistência na oração, mas a firmeza ou ousadia. Na passagem Q adjunta, Jesus promete que, atendendo a seus pedidos, Deus dará somente boas coisas a seus filhos.
Este texto de Lucas 11:9-13 traz uma doutrina bastante clara, para que nós realmente tenhamos firmeza, confiança e persistência naquilo que devemos pedir a Deus. A oração aqui descrita por Jesus é refletida em todo seu ministério, quando Ele realiza os prodígios e milagres. No relato do Evangelho de João capitulo (11:38-39) sobre a ressurreição de Lázaro, Jesus após ter chorado mediante a morte de seu amigo, Ele determina que abram o sepulcro e Olhando para o céu, orou agradecendo a Deus porque ouviu a suas orações. O que parece ser um grande paradoxo, pois Jesus a segunda pessoa da Trindade necessita ter esta comunicação e autorização do Deus pai. Sobre isso o escritor MoltamannJurgen, O Deus Crucificado, A cruz de Cristo com base e crítica da Teologia Cristã, (Editora Academia Cristã) 2014, Diz: Por isso partia-se da pergunta geral por Deus para o ministério de Jesus: O Deus eterno e imutável se manifestou em Jesus? – A resposta era: O Deus único, por quem o homem transitório e finito procura, tornou-se homem em Jesus. “Ele é a imagem do Deus invisível” (Cl 1.15), nele aprouve a Deus fazer toda a plenitude.
O que talvez para alguns seja um paradoxo, para nós trata-se da relevância e importância que o exemplo de Cristo nos traz. Jesus quis deixar de modo enfático e categórico que a Oração é o combustível dos que Creem em Deus, só através desta comunicação o Cristão terá acesso à realização de qualquer ação de Deus. O próprio Deus em forma de homem demonstrou toda humildade, intensidade e necessidade da Oração.
MoltmanJurgen, O caminho de Jesus Cristo, Cristologia em dimensões messiânicas. (Editora Academia Cristã) São Paulo 2014. A RûahJahweh/Espírito de Deus cria aquela relação recíproca na qual Jesus chama a Deus de Abba e se compreende a si como “filho” desse Pai. O fator especial dessa relação de Jesus com Deus se revela na oração – Abba. Para se corrigir distorções posteriores, deve-se retornar constantemente a intimidade dessa oração de Jesus. Em aramaico, Abba é uma forma de balbucia infantil com a qual crianças se dirigem a sua pessoa de referencia primitiva. Quer seja a mãe ou o pai, o que importa é a proximidade acolhedora e íntima, a qual se dirige a Deus com Abba consequentemente a tônica não está na masculinidade de um Deus pai e nem na majestade de um Deus Senhor, mas inaudita proximidade, na qual experimenta o mistério divino. Deus está tão próximo em termos de espaço quanto o reino de Deus se “aproximou” por meio dele em termos de tempo. O reino está tão próximo que se podem dizer Abba para Deus. Na relação com esse Deus-abba Jesus faz a experiência de ser “o filho” de Deus. Conforme o autor este termo Abba, demonstra claramente que está relação de Deus Pai e Deus Filho era extremamente íntima, tamanha que o Pai se manifestava estritamente com seu Filho.
Também podemos observar que mesmo em meio a ocupações e muitos afazeres, Jesus nos ensina a priorizar a oração. No texto de Marcos (1. 32-34), conforme mencionado, observamos que mesmo Jesus tendo passado a tarde toda curando e expulsando demônios daquelas pessoas da cidade e tendo que no dia seguinte se deslocar para a Galiléia, Jesus se retira a noite para orar. Em meio a todo o cansaço e correria, Jesus demonstra quão precioso é a Oração. Trazendo para nossa realidade, isto nos fala intensamente, pois em meio a nossa rotina frenética, muitos têm deixado de lado a oração e priorizado outros assuntos. Jesus deixou para nós o exemplo em que oração é prioridade. No monte das oliveiras, este fica bem explícito, quando Jesus diz aos seus discípulos: “Orai para que não venhais cair em tentação” e passa pela madrugada orando e quando retorna encontra-os dormindo. Jesus exorta e repete para que eles orem, mesmo em meio ao cansaço e fadiga devemos dar prioridade ao nosso alimento espiritual que é a oração.
Outro grande aspecto da oração na vida de Jesus trata-se desta comunicação em meio a qualquer circunstância. Vários textos sagrados nos revelam esta característica tão marcante em seu ministério. Nos evangelhos de (Lc3:33-49; Mt 27: 33-44; Mc 15:22-32; Jo 19: 17-30) Jesus ao ser crucificado e antes de entregar seu Espírito a Deus também estabelece a oração. Com este exemplo, observamos que Jesus termina seu Ministério também através deste canal de comunicação com o Senhor, revelando a importância da Oração em todos os momentos inclusive os de grande aflição. A grande percepção que devemos ter é que Jesus nos ensina a de forma bastante eficaz que em nossas orações devemos esvaziar nossas vontades e colocá-las em Deus, “Que seja feita a tua vontade”. É comum observarmos principalmente em meio a tantas Teologias e doutrinas que muitos estão condicionando suas vontades em relação a Deus, determinando e estabelecendo conceitos que Deus irá fazer aquilo que nós desejamos. O grande exemplo é quando observamos Jesus no texto de Mateus (26:39-44) “Meu Pai se for possível afasta de mim este cálice, não seja porém a minha vontade, mas sim a tua”.
Dentro dos seus ensinamentos, observamos que Jesus adverte a orar. Em Lucas (11. 9-13). Ele ensina que devemos pedir e buscar, pois só quem pede e busca, recebe e encontra. Jesus ainda diz: “Qual dentre vós é o pai que se o filho lhe pedir um pão lhe dará uma pedra”? No verso 13 Ele diz: “Ora se vós sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais o Pai celestial dará o Espírito Santo àqueles que lho pedirem? Em vários textos Jesus vai exemplifica este ensinamento, orando e pedindo a Deus e também agradecendo pelos feitos e bênçãos recebidas. O que não podemos, é entender que tudo o que pedimos é “bom”, pois Deus sabe o que realmente é bom para nós; por isso muitas doutrinas hoje tem imposto certos ensinos errôneos, que falam que você só será abençoado se tiver bens materiais. Por muito contrário, observamos um Jesus totalmente desprendido das coisas materiais e simplesmente dedicado a proclamar as boas novas e seus ensinamentos.

Considerações Finais

Neste breve artigo, concluímos que em todo seu Ministério e em sua passagem aqui por este mundo, a Oração na vida de Jesus é o princípio desta relação entre Deus Pai (Abba) e Deus filho, através deste canal de comunicação é recebido a Glória e o Poder de Deus. Mesmo parecendo um paradoxo e algo deveras complexo, observamos que a essência desta virtude está na humildade e submissão à vontade de Deus nosso Pai.
Jesus veio exemplificar através de sua vida e ministério o grande conceito da Oração. Na carta de Paulo aos Filipenses, capitulo 2 versículo 5 a  8, Diz: “De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, Que sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; E achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até a morte e morte de cruz.” Era necessário Cristo demonstrar a humanidade que só através da submissão, obediência e humildade teríamos acesso a Glória de Deus em nossas vidas, nos aproximando de maneira sobrenatural ao Poder de Deus, para que através deste, pudéssemos cumprir a boa e agradável vontade de Deus. Desta maneira fica bem explícito que Jesus cumpriu sua missão, sendo Deus veio para servir, por isso a importância da oração na vida de Jesus era primordial nesta relação entre Rei e Servo, Pai e Filho, mestre e discípulo. Numa breve analogia, Cristo seriam a restauração da criação perfeita de Deus, feita a sua imagem e semelhança, vencendo o mal através da obediência e amor a Deus, demonstrando que o Homem criatura de Deus teria a capacidade de vencer as tentações se tão somente seguir-se obediente e firme nos conceitos aqui expostos e principalmente no conceito da oração, a qual Jesus nos ensina a estabelecer esta comunicação em forma de conversa com Deus.
Finalmente podemos entender que somente pela Oração, alcançaremos os atributos necessários para vencer as tentações, andar segundo o propósito e vontade de Deus, ser cheios do Espírito Santo de Deus, receber a Glória do Senhor e ter um relacionamento íntimo e intenso com o Senhor. Jesus deixou em seu legado e em seus ensinamentos este princípio para que também, como Ele, em tudo nos direcionarmos ao nosso Pai e seguir conforme o Senhor nos ensine.

Referências
BLOMBERG, Craig L. Jesus e os Evangelhos: Uma Introdução ao estudo dos 4 evangelhos. 1ª Edição. Editora Vida Nova: 2009
KAISER, Walter C. O plano da Promessa de Deus: Teologia do Antigo e Novo Testamento. Editora Vida Nova. 
LADD, George Eldon. Teologia do Novo Testamento (Edição Revisada) Editora Hagnos.
MOLTMANN, Jurgen. O Caminho de Jesus Cristo: Cristologia em Dimensões Messiânicas. Editora: Academia Cristã. São Paulo 2014.
MOLTMANN, Jurgen. O Deus Crucificado:A cruz de Cristo como base e crítica da teologia cristã. Editora Academia Cristã. 2014
Bíblia de Estudo Almeida: Edição Revista e Atualizada. Sociedade Bíblica do Brasil. 2ª Edição 1999.
Bíblia King James: Edição de Estudo – 400 Anos. Abba Press Editora e Divulgadora. Tradução King James Atualizada. 1ª Edição set. 2012.
Dicionário Enciclopédico da Bíblia: Edições Loyola, Editora Paulinas, Editora Paulus e Academia Cristã.
Disponível em: <http://www.jba.gr/Portuguese/Jesus-e-a-Ora%C3%A7%C3%A3o.htm>. Acesso em: 06 out. 2014.
Disponível em: <http://pt.slideshare.net/ellainecrystina/didaque>. Acesso em: 14 set. 2014.
Disponível em: <http://www.montesiao.pro.br/estudos/celulas/celula210.html>. Acesso em: 06 out. 2014.
Disponível em: <http://www.estudosdabiblia.net/d17.htm>. Acesso em: 06 out.2014.













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